Qualquer fã de Lucio Fulci reage de alguma maneira quando passa a saber que o famoso diretor de clássicos do cinema de horror italiano como "Zombie" e "The Beyond", dirigiu faroestes. Seja ela de surpresa, estranheza, felicidade ou até mesmo repúdio, o fato é que Fulci deixou vários bons filmes e poucos conhecidos que merecem maior atenção. Infelizmente, ele apenas deixou a sua marca no gênero em "Tempo de Massacre", "Os Quatro do Apocalipse" e "Sela de Prata".

O interessante ao assistí-los é constatar que cada um foi realizado em fases diferentes da saudosa época dos Spaghetti Westerns, e apesar de serem tão poucos, aprendemos muito com eles, pois são filmes que realmente refletem o período no qual foram feitos. Em 1966, o bangue-bangue italiano estava no seu auge, com os três mais famosos Sergios do cinema italiano arrebentando. Só naquele ano, tivemos Clint Eastwood, Lee Van Cleef e Eli Wallach não medindo esforços atrás de uma valiosa quantia de ouro em "Três Homens em Conflito", uma obra-prima de Sergio Leone que encerra com chave de ouro a  conhecida trilogia dos dólares; a revelação de Franco Nero e Burt Reynolds ao mundo em "Django" e "Joe, O Pistoleiro Implacável", duas marcantes contribuições de Sergio Corbucci e Tomas Milian sendo perseguido por Van Cleef em "O Dia da Desforra", dirigido por Sergio Sollima, que é considerado um dos melhores filmes do ciclo.  

Todos os três faroestes de Fulci contam com a sua parcela de fama, principalmente "Os Quatro do Apocalipse" pela forte postura anticonvencional, mas "Tempo de Massacre" tem um lugarzinho reservado no coração de muitos fãs do estilo. Franco Nero interpreta o humilde minerador Tom, que recebe o comunicado de um amigo lhe avisando da necessidade dele voltar à sua cidade natal. Chegando lá, o que ele vê é um lugar inteiramente oprimido pelo maníaco Jason (Nino Castelnuovo, mandando ver no "over-acting", num papel que Klaus Kinski faria a festa) e seu pai Scott (Giuseppe Addobbati, creditado como John MacDouglas). Tom fica sabendo através dos capangas destes ricos burgueses que as antigas terras de sua mãe, assim como as de várias outras famílias, foram tomadas. Revoltado pela situação, o sujeito parte para reencontrar seu irmão Jeff (o uruguaio George Hilton, perfeito) e juntos, enfretarem a família opressora e seus homens.

O roteiro escrito por Fernando Di Leo, mais famoso pela sua contribuição ao cinema policial italiano (conhecido pelos termos "polizzioteschi" ou "poliziesco" por fãs e especialistas) com títulos como "La Mala Ordina" e "Mister Scarface",  tem uma trama bem simples e um pouco previsível. Já Fulci mostra várias das características que estariam presentes nos seus próximos trabalhos desde o início do longa, ao filmar - com direito a chicotadas na cabeça - uma sádica caçada a um pobre sujeito, obviamente inspirada no clássico "The Most Dangerous Game". Outra bela cena é o duelo travado com chicotes entre Jason e Tom durante uma festa particular na fazenda dos opressores. E acredite se quiser, mas Franco Nero tem a sua forte presença em cena simplesmente abalada quando contracena com os coadjuvantes Hilton e Castelnuovo, dois verdadeiros ladrões de cena. Aliás, "Tempo de Massacre" foi responsável pela merecida fama de George Hilton.

O maior ponto fraco do filme acaba sendo o ritmo. Afinal, quem vê os nomes de Franco Nero e George Hilton na capinha espera um faroeste cheio de ação, coisa que "Tempo de Massacre" não é. Quer um exemplo? Nero apenas atira em alguém perto do final!! Pelo menos, restam para o nosso deleite a boa música de Lallo Gori, a direção de fotografia e a antológica conclusão que, com certeza, influenciou o cinema de ação como conhecemos hoje. John Woo que o diga. Só faltava mesmo a violência em câmera lenta (detalhe: o clássico "Meu Ódio Será Sua Herança" ainda não tinha sido lançado), pois algum exagero, balaços na cabeça e as pombas brancas voando já estão presentes aqui.

Bem violento, "Tempo de Massacre" pode não ser nenhuma obra-prima, porém possui vários pontos positivos que o fazem merecedor de um melhor reconhecimento e de figurar em qualquer coleção dos fãs do bom e velho bangue-bangue à italiana.