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::Cine-Apelação::
Journey to the end of the night
Título(s) Alternativo(s): The Little Thief
Título Nacional: 12 horas até o amanhecer
Direção: Eric Eason
Elenco: Brendan Fraser, Mos Def, Scott Glenn, Catalina Sandino Moreno, Matheus Nachtergaele, Alice Braga, Gilson Adalberto Gomes, Milhem Cortaz
Ano: 2006
País: EUA / Brasil
Duração: 88 min
Sinopse: Um conto sobre o relacionamento disfuncional de um pai e seu filho em meio a um ambiente de drogas e prostituição enquanto uns tentam passar outros para trás para resgatar um dinheiro a fim de escapar dessa vida.
Comentário
Um filme com grandes expectativas, um bom elenco, roteiro interessante e tecnicamente bom, mas que foi um fracasso de critica em todos os festivais que participou, na internet, jornais, publico e foi finalmente lançado direto para homevideo. Então por que falar sobre ele? Primeiro porque é um filme que poderia e tinha potencial para virar cult - somente cult - ninguém estava esperando um blockbuster e nem essa era a intenção de sua realização, poderia mas obviamente não virou. Depois porque trabalhei nele; trabalhei como armeiro e técnico de efeitos especiais relacionado a tiros, ricochetes e tiros em corpo, e, junto com o resto da equipe, o que se via no set não é o que foi parar nas telas, um dos pouco filmes em que trabalhei que a visão do que o filme iria ser superou e muito o que ele se tornou.

A história é relativamente simples. Sinatra, um cafetão americano (Scott Glen) é obrigado a fugir para a América latina junto a seu filho Paul (Brendan Fraser) devido a dividas com mafiosos (isso é implícito no filme, não é mostrado). Acaba em São Paulo, nas redondezas da boca do lixo, onde se estabelece como um dono de um puteiro, casa grande mas em decadência.  Os dois comandam a casa e não vêem a hora de conseguir fugir desse submundo, há um ódio constante entre eles, principalmente vindo de Paul quando descobriu anos atrás que enquanto sua mãe morria de câncer seu pai estava ocupado com a enfermeira; é esse ódio que move a história principal em que um tenta trapacear o outro em busca do dinheiro de uma maleta de drogas deixada no clube. No caminho em que esse dinheiro percorre entram diversos personagens, inclusive um lavador de pratos, (Wemba, por Mos Def) que é recrutado para ir buscar o dinheiro. Há bem mais história do que isso, aliás, uma confusão de personagens constante, então não vale a pena entrar em detalhes. Os acontecimentos são previamente narrados por um vidente que funciona como elo de ligação entre os diversos personagens mas principalmente entre Paul e Sinatra. O filme basicamente acaba com todos mortos, mas com um final feliz.  Atores brasileiro? Há sim, Milhen Cortaz; Matheus Nachtergaele, e a maior parte do elenco; todos fazendo papéis dispensáveis e que não justificam o talento desses atores; funcionando mais como piada interna brasileira do que uma necessidade real de tê-los nos papéis. Milhen faz um capanga, braço direito de Paul; Matheus, para variar, faz um travesti, gatilho de todos os acontecimentos desastrosos e que leva uma surra de Brendan Fraser.

O que estava presente no dia a dia das filmagens era muito mais hardcore, crú, sujo e violento do que o que foi parar no corte final, do mesmo jeito, o roteiro era bacana, estiloso, bons diálogos, boa violência. O diretor, Eric Eason, gente boa, confiante, tinha acabado de vir de seu último filme, “Manito”, um sucesso de crítica, filme independente, e com jeito de independente, que se destaca justamente por ter uma assinatura. Por estas razões, a produção atraiu pesos pesados da indústria de Hollywood, Brendan Fraser, Mos Def, Scott Glen, e conseguiu ser produzido como baixo orçamento (para eles) e um gigantesco orçamento para o Brasil, aliás, única razão para o filme ter sido produzido por aqui, inicialmente o roteiro apenas descrevia uma cidade grande e suja do terceiro mundo, mais tarde foi adaptado para o cenário de São Paulo.

Tecnicamente, a fotografia tem personalidade, o filme foi fotografado por Ulrich Burtin, fotografo radicado no Brasil, pessoalmente um dos meus favoritos de se trabalhar, excelente fotógrafo e de extremo caráter. No filme ele experimenta, faz com que a luz trabalhe em favor da história, usa só o necessário, e (profissionalmente falando) é rápido. A direção de arte de Chiquinho Andrade é marcante, com estilo mas natural, embora tenha um “quê”  de fashion dos filmes de máfia.

O filme em si acabou sendo fraco, confuso, com personagens que entram e desaparecem sem razão, tenta ter um lado místico desnecessário à história, que, sinceramente, nem deveria estar lá, não encaixa e não tem a menor necessidade de se estar lá, se era para cortar alguma coisa, deveria ter sido isso, no entanto, deveria ter sido feito antes de se filmar, no roteiro, depois de pronto, não havia muito o que fazer.

Em resumo, é um daqueles poucos filmes em que você sabe que poderia ter sido um dos cults da década, mas que toda sua parte boa foi parar na lixeira do computador de edição, e que todo o seu potencial de ser uma coisa para se destacar foi abafado pelo medo de ser extremo demais e de ver Brendan Fraser em um papel de vilão drogado. Fazendo uma analogia tosca, “é melhor uma rapidinha do que uma meia bomba”; nesse caso é literalmente ou oito ou oitenta, não tem como dar certo tentar agradar todo mundo e parar no meio.

Mas até ai, citando uma frase que esta cada vez mais comum nos sets de filmagem, “No meu filme eu faço”.
André Kapel Furman
05/2007
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