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::Cinema-Bis::
Seytan
Título(s) Alternativo(s): Turkish Exorcist
Título Nacional:
Direção: Metin Erksan
Elenco: Cihan Ünal, Meral Taygun, Agah Hün, Canan Perver
Ano: 1974
País: Turquia
Duração: 100 min
Sinopse: Garotinha meiga começa a se comportar de maneira estranha após brincar com uma tábua de ouija. Quando seus modos se tornam grosseiros e violentos, a mãe procura ajuda médica, mas ninguém consegue detectar a doença que aflige a pobrezinha. Logo fica claro que ela só pode estar tomada pelo capeta, então a mãe a tranca no quarto e chama um padre para exorcizar o espírito maligno.
Comentário
Se é que existe um filme que leva às últimas conseqüências o conceito do "cinema-bis" - a arte, nem sempre honrosa, de se copiar um filme de sucesso em sua forma, estilo e conteúdo - este só pode ser o turco Seytan (conhecido no Ocidente como Turkish Exorcist). Feito em 1974, na cola da superprodução O Exorcista (1973), de William Friedkin, limita-se a copiar o original americano, cena a cena. Literalmente, sem tirar nem pôr. Hoje estamos nos acostumando a ver os americanos fazer isso com filmes de horror estrangeiros - como O Chamado e O Grito - mas neste caso são remakes oficiais, alguns até com participação dos criadores do original. Seytan é um plágio escandaloso; sequer pode ser considerado um rip-off à moda do cinema italiano - foram os cineastas carcamanos, aliás, que cunharam a definição "cinema-bis", cientes de sua natureza para a imitação oportunista. Seytan, quando muito, pode ser considerado um xerox desbotado.

Mas nem por isso o filme é ruim. Há até quem o considera superior ao Exorcista original, por não ter toda aquela pregação católica - afinal, a Turquia é um país muçulmano. Seytan passa por cima de qualquer sutileza narrativa da obra de Friedkin, com a leveza de um trator: não existem imagens simbólicas do padre decadente, não há conflitos existenciais ou a fraqueza humana diante de uma força desconhecida. Na ânsia de copiar tudo, o filme repete - sem, contudo, conseguir compreender - os melhores simbolismos do original, como a garotinha que é criada pela mãe divorciada, mas precisa da presença de um pai/padre (ambos "father", em inglês) para encontrar o ponto de eqüilíbrio.

Visando apenas chocar, apressa a história para chegar logo nas "partes boas", quando não faltarão cabeças giratórias, incontinência urinária, vômito esverdeado e masturbação violenta com um espeto (o crucifixo, objeto usado no original, seria inconcebível diante das diferenças religiosas). Talvez tenha os palavrões também ("Let Jesus fuck you!"), mas o filme é falado em turco, sem legendas, então é difícil saber. Para piorar as coisas, Seytan martela o tema musical "Tubular Bells", de Mike Oldfield, do começo ao fim (a música era usada com certa discrição no original). Vale dizer também que Seytan era o título do próprio O Exorcista na Turquia, o que devia confundir ainda mais as coisas quando o filme foi lançado.

A estrutura não traz surpresas para quem já conhece o original: a história começa com um padre caminhando por um sítio arqueológico, onde ele se depara com uma estátua medonha representando um demônio. Corta para a casa de uma moça (vamos supor que ela seja uma atriz de cinema, como no original), que ouve ruídos estranhos vindos do sótão e vai investigar. Começa aí um festival insuportável de zooms que insistem em aproximar o rosto das pessoas, no melhor/pior estilo Michael Winner ou Jesus Franco. Logo fica claro que estamos diante de uma das mais inaptas imitações do Exorcista.

A atriz Canan Perver parece meio grandinha, mas tem uma estranha semelhança com Linda Blair. Ela não faz feio no papel da garotinha possuída, mas o filme não consegue esconder suas fraquezas nas cenas com efeitos visuais. Um dos mais risíveis é o da levitação, quando o quarto - até então plenamente iluminado - fica às escuras para esconder as cordinhas que içam a atriz. Escolher os piores momentos fica ao gosto de cada um, mas não há como segurar o riso quando mãe e filha pulam como doidas sobre a cama, ou quando a cabeça da menina gira para trás. Mesmo a chegada do exorcista à casa tem algo de ridículo.

Quem pensa que filmes como A Reencarnação do Demônio, Abby, O Anticristo, Seduzidas Pelo Demônio ou Exorcismo Negro abusam do descaramento ao imitar O Exorcista, precisa conhecer o que os turcos são capazes quando decidem roubar idéias alheias.
Carlos Primati
20/02/2005
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