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::Cine-Apelação::
Centipede Horror
Título(s) Alternativo(s): Centipede Curse
Título Nacional:
Direção: Keith Li
Elenco: Kiu Wai Miu, Din Long Lee, Hussein Abu Hassan, Lei Wang, Stephan Yip
Ano: 1984
País: Hong Kong
Duração: 93 min
Sinopse: Lacraias cuja letalidade do veneno é potencializada por magia negra tocam o terror sobre membros de uma família de turistas. O motivo? Vingança. Mas, que terrível segredo poderia se esconder sobre o passado de gente tão pacata e inofensiva? Cuidado onde pisa, pois o próximo passo pode ser o último!
Comentário

Qualquer fã de horror que se preza já deve ter notado o quanto de terreno os filmes orientais do gênero ganharam de uns tempos pra cá, reinventando velhas fórmulas e acrescentando algo de sua cultura a histórias antes contadas sob uma ótica inegavelmente ocidentalizada. É claro, injetando ingredientes típicos do seu modo de vida, os diretores e roteiristas tiveram que fazer algumas concessões em determinados campos, tudo para tornar os filmes mais didáticos àqueles olhos não tão puxados quanto os seus. Trocando em miúdos: uma das chaves para o boom do atual cinema asiático de horror é justamente a reinterpretação de signos típicos da cultura ocidental e a inserção gradativa de elementos locais, conforme a sua relevância. Afinal, se você quer fazer alguém gostar de Hamlet, ensine-o, sim, a ler, mas comece pelas fábulas de Esopo. Tudo a seu tempo. A sábia e milenar cultura do Oriente.

Centipede Horror foi idealizado e concebido bem antes deste estouro mundial – o filme é de 1984 – e, assim sendo, não é notável qualquer tentativa de “suavização” ou qualquer mecanismo que induza a aproximar o olhar não-oriental à trama. Tão somente um filme feito por e para uma audiência pré-globalizada. Não deixa de dar saudade. Basta reler a sinopse para responder: com um enredo desses, Hollywood poderia conceber algo longe da obviedade mainstream de um Aracnofobia, algo além de um Ticks – o Ataque? Haveria a possibilidade de trabalhar um roteiro desses sob a pressão irrefutável dos produtores? Como todo filme, Centipede Horror foi uma aposta. Infelizmente, nos dias de hoje, há cada vez menos gente disposta a apostar no risco, preferindo empreendimentos certos. Perde com isso o cinema e a sua diversidade. Decerto, lido em 2005, o roteiro deste filme teria fatalmente sido engavetado. Uma pena, pois aqui há um belo exemplar do quanto pode ser inusitado um filme feito nestes moldes.

Kay, a irmã caçula de Pak, decide viajar pro sudoeste asiático escondida da mãe, tendo o irmão por cúmplice. Lá, ela se embrenha em um matagal e acaba vitimada, junto com a amiga, por um bando de lacraias famintas. De posse da notícia, Pak ruma para o local, onde se vê às voltas com o lastimável estado da irmã, a ineficiência médica no diagnóstico do quadro degenerativo da menina, investigações sobre o acontecido, especulações sobre feitiçaria, um romance fast-food e segredos de família há muito enterrados. Fragilizada pela enfermidade misteriosa e pelas feridas cada vez mais infeccionadas, a jovem Kay sucumbe bonito, batendo as botas e deixando Pak ainda mais intrigado ao revelar lacraias brotando de uma ulceração mais profunda. Vale notar que nada sobre os aracnídeos havia sido mencionado ao rapaz, visto que a menina não conseguia falar o que quer que fosse após o choque do ataque.

Como é de praxe lá para as bandas do Oriente sempre colocar algum fantasminha na trama, aqui o mesmo aparece em visões que o protagonista tem de uma criança, cujo rosto nunca é focalizado e sempre aparece vestida de vermelho (alguém aí falou algo sobre Inverno de Sangue em Veneza?). As aparições não são assim tão deslocadas no contexto do filme, mas sua conclusão acaba não sendo satisfatória, tendo em vista que elas poderiam ser muito melhor exploradas. Boa mesmo acaba sendo a seqüência onde um pretenso curandeiro “do bem” retira, com a ajuda de dois fantasmas mirins, o feitiço que deixava uma mulher com a barriga verde (!!!). Ainda bem que não era nada demais o problema da donzela; no fim das contas, ela só vomitou um balde de sangue com alguns escorpiões pretos vivos depois de os dois fantasmas socarem-na sem cessão. Cheguei a comentar que eles faziam isso dentro da moça, e não fora?

Infelizmente, o filme perde pontos preciosos no final, pela duração da luta entre os feiticeiros ser demasiado longa e, em contraste com isso, também pela pressa na conclusão de algumas situações, o que torna o final um pouco equivocado e maçante, além de um tanto óbvio.

Mudar a sua vida? Não, definitivamente esse filme não fará isso. Mas trata-se de um representante digno do ciclo de filmes sobre feitiçaria que dominou a cinematografia de horror de Hong Kong no período, caso de Red Spell Spells Red, Ghost Nursing, The Boxer’s Omen, Brutal Sorcery e tantos outros inspirados na trilogia Black Magic, iniciada em 1975. Além do que é uma alternativa muito legal a uma ditadura de temas e refilmagens incalculáveis, como o explicitado nos primeiros parágrafos. E funciona como uma curiosidade para aqueles que achavam que só os Shaw Brothers reinavam absolutos na sétima arte por aquelas plagas. Em tempo: o diretor Keith Li, homem responsável pelo horror de cem patas aqui desvelado, já trabalhou também com os Shaw Bros. na direção de The Supreme Swordsman, de 1984.
Vinnie Bressan
03/2007
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- Sazuma
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