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::Sala de Tiro::
Assault on Precinct 13
Título(s) Alternativo(s):
Título Nacional:
Direção: John Carpenter
Elenco: Austin Stoker, Darwin Joston, Laurie Zimmer, Martin West, Tony Burton, Charles Chyphers, Nancy Kyes, Peter Bruni, John J. Fox
Ano: 1976
País: EUA
Duração: 91 min
Sinopse: Na derradeira noite antes de ser completamente desativada, antiga delegacia de polícia, situada em subúrbio barra-pesada de Los Angeles, é alvo de violento ataque de louca gangue de meliantes armada até os dentes.
Comentário
John Carpenter. Poucos são os diretores autorais que têm seus nomes tão intimamente vinculados ao universo de filmes subversivos de horror. Rigorosamente, Assault on Precinct 13 não é um filme do gênero. Trata-se de fita de ação com generosas doses de suspense. Porém, ainda que o espectador nunca tenha ouvido falar em John Carpenter, basta assistir a alguns minutos de projeção para que se desconfie: “ah, mas esse diretor deve ter o background fortemente alicerçado em filmes de horror”.

E é a mais pura verdade.

Antes de dirigir os clássicos e seminais Halloween (1979) e The Thing (1983), Carpenter aventurou-se no cinema de ação. Mas o fez à sua maneira. No lugar da pancadaria generalizada, a narrativa, aqui, centra-se na tensão vivida pelos personagens que se refugiam na delegacia de polícia. Do lado de fora, a sitiá-los, imensa legião de malfeitores, escondidos nas sombras da noite escura, aguarda o momento ideal para promover uma invasão. O motivo do ataque parece ser a presença, no interior da chefatura, de um desafortunado cidadão, que, ao perder-se nos perigosos subúrbios da cidade, teve sua filhinha gratuitamente assassinada, em um assalto, pela referida gangue. Sedento de vingança, o sujeito sai em perigosa perseguição de carro aos assassinos. Após troca de tiros com os homicidas, consegue matar um deles, justamente o que disparou contra a sua filha. A vingança, porém, custa-lhe caro. Perseguido então pelo bando inteiro, o sujeito, por fim, dá-se conta da enrascada em que se meteu e sai a correr desesperado pelas ruas desertas, até encontrar refúgio na velha delegacia parcialmente desativada. Em estado de choque, nem ao menos é capaz de contar aos policias, precisamente, o que se passou. Não demora muito e todos se vêem no mesmo barco, cercados pela gangue. Para piorar, os telefones são subitamente desligados, fato que os impossibilita de pedir ajuda. Em seguida, a luz é cortada. Sem saída e após serem surpreendidos por um primeiro ataque dos bandidos, que conseguem repelir com várias baixas, os poucos a sobreviverem, dentro da delegacia – o delegado, dois detentos condenados e uma valente recepcionista –, acham-se obrigados a selar uma aliança, de sorte a evitar a invasão. Lá fora, a gangue, identificada por um dos detentos como os sanguinários e suicidas “cholos”, não pretende poupar ninguém, seja ele polícia ou bandido. Ainda mais quando a gangue também procura vingar-se da brutal execução, por parte de policiais, mostrada logo no início do filme, de vários membros do bando.

A estória, aparentemente, inspira-se no clássico do horror Night of the Living Dead (1969), de George Romero, e, também, no famoso western Rio Bravo (1959), de Howard Hawks. Mas é com o primeiro filme que as semelhanças saltam mais óbvias. Senão, vejamos. Temos um grupo absolutamente heterodoxo de pessoas, preso em uma casa, obrigadas pelas circunstâncias a aliar-se contra um inimigo em comum. Temos a ameaça externa, na forma de uma gangue de insanos dos quais muito pouco se sabe (e muito pouco se vê), que a todos ataca, indistintamente, de modo quase irracional. Temos o sujeito que atrai o bando de furiosos para a delegacia e, logo depois, queda-se catatônico, até o final do filme. Temos a possível explicação pseudo-científica para a violentíssima reação da gangue: a atividade de manchas solares que estariam a interferir no comportamento das pessoas. Temos o protagonista que tenta furar o cerco e encontra a morte. Temos, até, a fuga derradeira dos sitiados para o porão da delegacia, quando os meliantes finalmente logram invadi-la.

Vale ressaltar, neste passo, a assustadora impessoalidade dos membros da gangue. De variadas origens étnicas, mantêm-se eles em silencio durante praticamente todo o filme. Não seria exagero dizer que são os análogos dos zumbis de Romero. Comparação que se enrobustece quando se atenta para o comportamento quase suicida do bando, nas ocasiões em que tentam invadir, obsessivamente, a delegacia.

O foco narrativo, sempre do lado dos sitiados, reforça a sensação de claustrofobia, desamparo e solidão que permeia o filme. A impressão é de que não há mais, no mundo, nenhum humano para além dos sitiados. O uso de silenciadores pelos membros da gangue também ajuda na construção desse clima apocalíptico. Durante a brilhante cena do primeiro ataque – e posterior tentativa de invasão – da gangue à delegacia, os disparos impessoais e silenciosos dos invasores (acompanhados apenas do barulho dos vidros estilhaçados e do ricochete das balas) contrasta fortemente com os ruidosos tiros defensivos desferidos, logo depois, pelos sitiados. Mais do que a intenção de não despertar a atenção dos vizinhos, o uso dos silenciadores parece conotar a impessoalidade zumbificada dos próprios integrantes da gangue. De ressaltar, ainda, a forma escolhida por Carpenter para realizar as cenas, enfatizando a tensão dos sitiados, em seqüências, por vezes, mais longas e com menos cortes, em detrimento da ação pura e simples.

É evidente, ademais, a preocupação do diretor em não reduzir os protagonistas a posições maniqueístas do tipo “bons” e “maus”, ao mostrar a necessidade de cooperação entre os policias e os condenados (embora, evidentemente, tal não se aplique aos membros da gangue, que, despersonalizados, literalmente encarnam a figura difusa da “ameaça”). Na verdade, mais do que uma diferença ontológica, o que separa policias e prisioneiros são circunstâncias, escolhas e histórias de vida. O próprio delegado afirma ter crescido, como muitos outros desafortunados, naquele mesmo subúrbio perigoso. Aliás, a possibilidade da aproximação de pessoas diferentes, ainda que sempre com uma aura de desconfiança, é tema que veio a ser novamente explorado com maestria por Carpenter, poucos anos depois, na obra-prima da claustrofobia de horror: The Thing.

É bem verdade que Assault on Precinct 13 tem algumas arestas, como as referências ambíguas ao humor, que não parecem casar bem com o competente clima de tensão criado. Mas os pontos positivos superam em muito os negativos e fazem do filme obra muitíssimo interessante, que prende a atenção do espectador, seja por seus elementos de ação seja por seus elementos de suspense, do início até o fim.

Fabrizio Barberini
03/2007
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