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::Galeria do Terror::
Antropophagus
Título(s) Alternativo(s): The Grim Reaper, Man-Eater
Título Nacional:
Direção: Joe D'Amato (Aristide Massaccesi)
Elenco: Tisa Farrow, George Eastman, Saverio Vallone, Serena Grandi, Rubina Rey
Ano: 1980
País: Itália
Duração: 88 min
Sinopse: Rumo a pequeno vilarejo em paradisíaca ilha grega, grupo de turistas conhece, casualmente, jovem professora, que para lá também se dirige com o fito de tornar-se preceptora de adolescente cega. Juntos, cruzam o mar a bordo de pequeno veleiro. Já em terra firme, descobrem que a ilha encontra-se estranhamente deserta. O telégrafo, única ponte de comunicação com o continente, acha-se propositalmente destroçado. Entretidos com as investigações, descuidam-se do barco, que é levado pela maré. Vê-se, assim, a trupe de desafortunados marinheiros obrigada a procurar refúgio em uma das velhas casas da misteriosa vila.
Comentário
Joe D’Amato, nome de batismo: Aristide Massaccesi. Juntamente com os diretores Dario Argento, Lucio Fulci e Ruggero Deodato, talvez tenha sido o que de melhor o cinema de horror extremo italiano, de meados da década de setenta a meados da década de oitenta, tenha exportado para o mundo. Não estamos falando aqui, bem entendidos, de picaretas homéricos – responsáveis por algumas das comédias involuntárias mais deliciosas da história – como Bruno Mattei, Umberto Lenzi e Claudio Fragasso (que Deus os conserve com saúde e com a heróica habilidade de fazerem filmes sempre piores, para o nosso supremo deleite).

Antropophagus, levando em conta as evidentes limitações do budget (certamente custou uma ninharia aos produtores), é um filme de várias virtudes. O uso inteligente da câmera, nominalmente a cargo de Enrico Birbicchi, mas certamente sob rígida tutela do próprio diretor D’Amato, originalmente cinegrafista, marca muitos pontos. Da subjetiva inicial do assassino, logo no começo do filme – tão em voga, posteriormente, nos slashers oitentistas americanos –, ao esgueirar da câmera pelas vias tortuosas da pequena vila, nota-se a firme preocupação em forjar climas macabros, muitas vezes em detrimento da história (no horror, roteiro nunca foi o forte dos italianos). Com o artifício, convida-se o espectador a entrar no filme.

As locações – parecidíssimas com as do muito inferior, mas até mais extremo, A Ilha da Morte, de Niko Mastorakis – também ajudam na criação do ambiente angustiante. Contudo, ao contrário do grego, as humildes casas de pescadores em Antropophagus, ainda que brilhem ao sol do Mediterrâneo, brilham sempre com luz negra. De fato os casebres, sombriamente desertos, conquanto refuljam a um primeiro olhar sob o sol radiante do verão revelam, num perscrutar de olhos mais atento, um mal antigo que parece se ocultar sob o caiado já rachado de suas velhas e bolorentas paredes. O contraste do dia claro com o profundo breu da noite, que na montagem seca do filme salta, de uma só vez, sobre os olhos do espectador, reforça a sensação de que o mal ali ronda em jornada dupla.

Claridade não é garantia de segurança, mas o escuro é certeza de morte.

As cenas noturnas, passadas dentro da casa, são muitíssimo bem costuradas e cheias de clima (alguém aí falou em Amityville?), com direito a andanças erráticas em escadas e em longos corredores à luz de velas (e que barulho foi esse?), bem como a sustos nada previsíveis. Aliás, uma das melhores cenas do filme está nessa seqüência, logo depois que um gato preto surge a caminhar sobre o teclado de um piano e...e...bem, é melhor assistir ao filme...

Alguém está à espreita! Em uma janela, atrás de uma porta, numa curva do caminho. A câmera são os olhos do assassino. A narrativa bem construída leva-nos a imaginar que algo, uma presença, um vulto, um fantasma, está sempre a nos observar. Não, não me refiro só aos personagens, mas a nós, espectadores. E que sensação mais excitante pode haver para um fã de filmes de Horror? Afinal, não os vemos para que um frio na espinha nos enregele fundo a alma? Sim, tenha cuidado, um maníaco está à solta – competentemente encarnado por George Eastman, ator de Absurd, do próprio D’Amato, e da obra-prima Rabid Dogs, de Mario Bava. Depois de vitimar os habitantes da vila, agora se volta, o maníaco, contra os malqueridos visitantes.

Convenhamos, um filme que mostra um grupo de pessoas (estará você no meio deles?) perdido num lugar desconhecido, cativos de medo feroz e tomados da certeza de que algo inominável está por acontecer, não pode ser de todo ruim. E, com certeza, não o é. Antropophagus, de fato, surpreende. Não apenas por suas duas infames e famosas seqüências absurdamente gore (hoje, contudo, já nem mais tão infames assim) – a do feto que é arrancado do útero da mãe e devorado pelo maníaco e a do próprio maníaco que, eviscerado, come as próprias tripas –, mas, principalmente, pela construção habilidosa dos climas.

É bem verdade que há um bom número de pontos fracos. O início, até a chegada do grupo na ilha, é arrastado e tem momentos realmente tolos. Os diálogos são por demais ingênuos (mas, ora, isso não é filme do Dreyer!). Em algumas partes, a parca iluminação torna difícil vislumbrar o que está acontecendo, embora a péssima qualidade da cópia em DVD deva contribuir, em muito, com o excessivo negrume. A história tem tantos furos que lá pelas tantas você larga mão de entendê-la. Mas é aqui que está a chave. Não é a história que conta. A proposta é outra. Investe-se pesado em climas, narrativa e, também, em extremismo. São essas as características, e disso bem sabem os fãs, que tornam o cinema italiano de horror, nesse período, tão único e apaixonante. De certo modo, um contraponto ao que era normalmente feito, à época, em Hollywood. Um contraponto, não necessariamente uma confrontação. O mundo, posto em mais de uma perspectiva, fica indubitavelmente mais rico.

E que venha a nós o devorador de fetos e intestinos!
Fabrizio Barberini
04/03/2005
Onde Conseguir
- Putrescine - Xploited Cinema
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