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::Bye Bye Brazil::
Rastros na Areia
Título(s) Alternativo(s):
Título Nacional: Rastros na Areia
Direção: Hércules Breseghelo
Elenco: Dalvan, Dalvana (pequetita), Décio Pinto, Maurício do Valle
Ano: 1988
País: Brasil
Duração: 79 min
Sinopse: Após a morte da mãe, peão resolve deixar para trás a infância conturbada e a vida no campo para se aventurar na cidade. Lá enfrenta muitas dificuldades, mas sua fé e suas conversas com Jesus Cristo fazem com que ele supere todos os obstáculos.
Comentário
Existem filmes que nasceram para dar errado. Boa parte deles são os famosos "filmes de celebridade": sujeito popular (cantor, jogador de futebol, lutador de jiu-jitsu, apresentador de tv, etc), de boa exposição na mídia, resolve buscar novos caminhos na carreira e acaba caindo no cinema. Isso acaba gerando alguns títulos divertidos (os do Rei Roberto e os do Rei Elvis) e também bombas inacreditáveis (Cinderela Bahiana, com Carla Perez, é o primeiro que vem à mente).

É aí que chegamos a Dalvan. Para quem não está lembrado, Dalvan é um cantor sertanejo-gospel que fez relativo sucesso no final dos anos 80 e início dos 90, presença garantida nos Sabadões da vida. Em 1988, no auge da sua fama, Dalvan resolveu buscar um novo caminho na carreira: fazer um filme. Não contente apenas em protagonizar a fita, ele escreveu o roteiro, chamou um diretor e produziu tudo. O resultado é esse Rastros na Areia, um drama religioso que faria Ed Wood morrer de inveja.

As bizarrices de Rastros na Areia começam pelo elenco: além de Dalvan, temos Maurício do Valle (completamente perdido) e Décio Pinto – possivelmente o duplo sentido mais hilariante da história do cinema nacional. Dalvan tratou também de dar um papel à sua filhinha, creditada como "Dalvana (Pequetita)", para constrangimento de todos os espectadores que não são parentes ou amigos da família do cantor.

Vamos aos filme. A primeira cena entrega o tom da película: vemos duas pessoas caminhando e conversando na beira da praia. Um deles é Davi, o personagem de Dalvan, enquanto o homem que está dando conselhos a ele é ninguém menos que Jesus Cristo. E o que esperar de uma fita que começa com um cantor sertanejo conversando com Jesus na praia? A resposta vem nos minutos seguintes: um punhado de cenas horrorosas emendadas por uma história paupérrima. Em uma inacreditável seqüência de pesadelo, por exemplo, Davi acorda assustado, após sonhar que estava sendo socado no estômago por um pedreiro, sem motivo aparente.

Outra cena digna de nota é quando um sujeito convida Davi para tocar violão com os amigos. É a hora do famigerado número musical. Dalvan pega a viola e começa a tocar. E daí o espectador certamente vai estranhar o arranjo de piano, o teclado, a bateria, os backing vocals - afinal, o que temos é Dalvan e seu violão, apenas. É uma dublagem muito mais patética do que qualquer uma das participações do cantor nos Sabadões Sertanejos - acrescente a isso a barba do homem, que impede a visão de qualquer movimento de sua boca (imagine um ventríloquo cantando), e está feito o estrago. Trata-se do mais terrível interlúdio musical em muito, muito tempo.

Menos de cinco minutos depois do desastroso playback na roda de violão, uma nova catástrofe: um acidente violento na estrada. Não há como entender o que provoca a coisa toda; o que se vê é Davi pisando forte no freio e girando o volante todo para a esquerda - o suficiente para qualquer idiota conseguir derrubar um caminhão carregado. A cena é tão mal filmada que não podemos imaginar outra coisa senão um cara rolando no asfalto enquanto segura a câmera ligada. E temos aí mais uma para o topo, desta vez da lista de piores acidentes já filmados na história do cinema.

Após esses momentos, a trama se encaminha para um desfecho redentor, com direito a lição de moral familiar e uma grande demonstração de fé. Mas a maior das lições fica para Dalvan: a investida do cantor no cinema foi tão torta que transformou um drama em uma surreal comédia involuntária. Rastros na Areia é muito ruim, e, na melhor das hipóteses, será sempre lembrado como o filme em que Jesus Cristo é interpretado por Décio Pinto.
Gustavo Cavinato
28/02/2005
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