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::Rango de Boteco::
Virus (L'Inferno Dei Morti Viventi)
Título(s) Alternativo(s): Hell of the Living Dead, Night of the Zombies, Cannibal Virus
Título Nacional:
Direção: Vincent Dawn (Bruno Mattei)
Elenco: Margit Evelyn Newton, Frank Garfield, Selan Karay, Robert O'Neil
Ano: 1980
País: Itália/Espanha
Duração: 103 min
Sinopse: Esquadrão de elite da polícia americana é enviado para a Nova Guiné para descobrir as causas de acidente em uma usina de força, origem da disseminação de gás que espalha uma horrível praga: a ressurreição dos mortos na forma de zumbis canibais.
Comentário
Há diretores que são geniais. Outros são artesãos. Alguns são apenas ruins. E há o Bruno Mattei. Ruim ele é, sem dúvida. Não tenho certeza é se podemos chamá-lo, propriamente, de diretor. Aliás, comete-se amiúde uma injustiça que espero a história do cinema venha a reparar. O Ed Wood era um inepto. Isso é fato. Mas elegê-lo como o pior diretor do mundo é subestimar a magnitude das barbaridades perpetradas em película por esse inacreditável italiano. Meu amigo, o negócio aqui é que nem São Tomé, tem-se que ver parar crer.

Hell of the Living Dead sintetiza tudo o que o “cinema” de Mattei tem de “melhor”: redundância, chupações explícitas de outros filmes, péssimos enquadramentos, efeitos abomináveis, figurino brega, diálogos ridículos, personagens canastrões (e que deixariam os adolescentes dos filmes do Jason parecendo doutorandos em Platão), lições de moral hilárias, enredos patéticos, iluminação de boate, etc. É bem verdade que já vi muita coisa na vida, e muita coisa ruim, mas o nível de picaretagem aqui chega a um nível alarmante. De memória, só me recordo de três filmes, feitos no esquema profissional (?), que ousam mergulham assim tão fundo e despudoradamente nas voragens abissais e miasmáticas da incompetência: Nightmare City (do Umberto Lenzi), Robot Monster (do igualmente divertido Phil Tucker) e Rats – Night of Terror (do, surpresa, próprio Mattei).

Mas vamos ao filme.

No início, vemos a tal usina de força. Dois funcionários, ao inspecionarem os geradores, verificam que há um vazamento. A razão parece ser um rato que se meteu no meio dos delicados equipamentos (é, meu amigo, um rato é responsável pelo fim do mundo...e você pensou que seria obra do Anticristo ou do Bush, hein?). Subitamente, enquanto um dos funcionários segura o bichano pelo rabo, este volta à vida e, num corte de câmera dos mais toscos, entra no macacão do infeliz e passa a atacá-lo furiosamente. Num instante, há sangue esguichando para todos os lados, enquanto o coitado do ator tenta fazer-nos crer que está a padecer de dores lancinantes, embora em nenhum momento tente bater no macacão para se livrar do bicho. O infeliz logo cai morto, na hora exata em que carnavalesca fumaça esverdeada (visivelmente bombeada por algum assistente de produção escondido atrás do maquinário) começa a vazar dos equipamentos. O fumacê revela ter propriedades surpreendentes. A mais notável é trazer os mortos de volta à vida. Como normalmente acontece em tais filmes, os presuntos já voltam com a boca no botija, ôps, na botija não, na carne dos vivos! A praga rapidamente se dissemina. Em minutos, a usina é tomada por sanguinários zumbis canibais. Depois, as cercanias, as vilas próximas e, por fim, todo o país.

O filme então dá uma guinada e passamos a acompanhar uma equipe de “elite” da polícia americana invadindo um prédio, onde um tresloucado grupo de seqüestradores exige que um projeto conhecido como Hope (implementado na tal usina na Nova Guiné) seja imediatamente abandonado. Segue-se patética cena de ação onde os tais policiais de elite (na verdade, uns trapalhões, que só não tropeçam uns nos outros porque a seqüência deve ter tido mais de um take) invadem o prédio, pela PORTA DA FRENTE, que estava DESGUARNECIDA, e passam a executar, um a um, os temíveis seqüestradores, os quais se limitam a passear, despreocupados, pelos corredores. A invasão termina com uma cena maravilhosamente horrível. De sopetão, os bravos policias derrubam a porta do escritório, dentro do qual se refugiavam os últimos terroristas e, numa coreografia certamente idealizada pelo Didi, fuzilam os meliantes, que, estranhamente, não pareciam preocupados com os policiais, mas, sim, em apontar as armas para os reféns prostrados no chão.

Após o sucesso, o grupo de heróicos policiais é enviado à Nova Guiné, com a missão de averiguar o que sucedeu por lá. Assim que chegam, descobrem que as coisas na ilha já foram para as cucuias e tentam chegar à usina por conta própria. No caminho, encontram um casal de jornalistas. Juntos passam a investigar o território. Desse ponto em diante somos submetidos a um híbrido de filme de zumbi, repleto de gore, com cenas roubadas da National Geographic. Num momento, os atores estão a olhar o mato. Logo depois, a câmera corta e vemos um grupo de aborígenes a navegar num barco. Um zumbi surge no meio da floresta. Mais um corte de câmera e vemos uma garça em slow motion a apanhar um peixe. Para ambientar o filme na Nova Guiné sem ter que deslocar a equipe, o visionário Mattei resolveu enxertar seu filme com cenas de um documentário sobre a região. O resultado é das coisas mais hilárias, gratuitas e absurdas já registradas na história do cinema. Nem no mesmo formato fílmico as cenas foram rodadas (!), o que faz do conjunto um Frankenstein com direito a nariz de palhaço.

No fim, depois de muita luta com zumbis e muitas garças voando, o grupo chega à usina e descobre o terrível segredo por trás do projeto. Deus do céu! A única coisa pior do que o Mattei filmando é ele tentando passar alguma lição de moral.

O mais engraçado é ver nos extras do DVD a entrevista em que o diretor afirma que algumas cenas – como a inacreditável seqüência em que um dos policias, supostamente preocupado com os zumbis, diverte-se, vestido de bailarina (?), a cantar I’m Singing in the Rain (??) – foram improvisadas no momento da filmagem. Ora, mas será que isso significa que algo no filme não foi improvisado ali, na hora de ligar a câmera?

Bem-vindos ao espantoso mundo de Bruno Mattei!
Fabrizio Barberini
20/03/2005
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- CD Point
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