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::Rango de Boteco::
Orloff and The Invisible Man
Título(s) Alternativo(s): Orloff Against the Invisible Man, La Vie Amoureuse de l'Homme Invisible, Dr. Orloff's Invisible Monster, Love Life of the Invisible Man, Orloff et l'Homme Invisible, Orloff y el Hombre Invisible, Secret Love Life of the Invisible Man, The Invisible Dead
Título Nacional:
Direção: Pierre Chevalier
Elenco: Howard Vernon, Brigitte Carva, Fernando Sancho, Isabel del Rio
Ano: 1970
País: França/Espanha
Duração: 76 min
Sinopse: No meio de noite chuvosa, médico de pequeno vilarejo acorre ao castelo do temido Dr. Orloff para atender a chamado de urgência da filha do sinistro proprietário. Lá, descobre que o amalucado doutor promove macabras experiências, o que inclui o rapto de inocentes, na tentativa de criar – e alimentar – espécie de super-homem por ele criada.
Comentário
Sabe aqueles fins-de-semana em que, calibrados por algumas cervejas, você e seus amigos resolvem fazer um filme, com roteiro bolado na hora? Pois é. Foi o que sucedeu com nosso amigo Pierre Chevalier. A diferença é que, ao contrário do que se passa com a maioria dos mortais – que novamente sóbrios e com o senso do ridículo devidamente recomposto desistem imediatamente da furada –, resolveu o ousado francês tocar o projeto adiante. No percurso, logrou arrastar para o fundo do poço conhecido ator de fitas B de eurohorror – Howard Vernon, imortalizado pelo profícuo diretor espanhol Jesus Franco em sua série de filmes sobre o Dr. Orlof (cujo nome, aqui, foi inflacionado com a adição de mais um “f”). E em que roubada se meteu o Vernon! Muito pior do que qualquer das muitas tranqueiras realizadas com o Franco (embora, verdade seja dita, o Jesus espanhol até tenha um par de filmes bacanas). Com certeza, essa é a encarnação mais horripilante do já horripilante doutor Orlof(f). Bem entendido, horripilantemente engraçada.

O filme é um desastre. Com exceção do início, quando o médico erra por sombria floresta nas cercanias do castelo e de uma outra seqüência, logo adiante, quando ele testemunha um cortejo fúnebre a ter a imagem duplicada na superfície de um lago (cena que, me parece, parafraseia algum clássico, do qual, infelizmente, não consegui me lembrar), o resto é um amontoado de cenas ridículas, que somente podem ter sido concebidas, e dirigidas, por alguém sob o domínio de enormes quantidades de álcool.

Aliás, é curioso notar como o filme, à medida que avança, vai ficando cada vez pior e, bem por isso, a depender do grau de sarcasmo do espectador, mais interessante. O resultado final é uma profusão de cenas hilárias, que fazem a barriga doer de tanto dar risada.

Assim que chega ao castelo, o intrépido médico descobre que sua paciente, a filha do Dr. Orloff, sofre com delírios de que é espreitada por alguma presença invisível. O médico imediatamente desconfia de que a moça é zureta e vai ter com seu sinistro pai. Surpreendentemente, Dr. Orloff não procura ocultar os fatos e afirma que o ser invisível, com efeito, existe. Na verdade, trata-se de criação sua, um homem comum que, modificado em sua íntima natureza, transformou-se em uma espécie de super-homem: mais forte, mais inteligente, mais resistente, mais perfeito, mais... invisível(?). Infelizmente, esse ser superior tem sua dieta baseada em sangue humano fresco. Daí porque é necessário seqüestrar um ou outro andarilho de sorte a alimentar nosso amigo transparente. Por óbvio, será esse, também, o destino do médico, que acaba trancafiado, pelo próprio homem invisível, em um calabouço, à espera do momento em que lhe será servido como jantar.

Justo nessa altura se passa uma das mais patéticas seqüências do filme. Como recompensa por haver capturado o médico, Dr. Orloff permite ao homem invisível que se divirta com uma pobre serviçal. Difícil dizer o que é pior: o nu frontal da atriz (uma baranga gordinha usando peruca horrorosa) ou sua “atuação”, que se resume a jogar-se de um lado para outro, em cima de um monte de feno, enquanto o homem invisível, numa subjetiva em certos momentos até fora de foco, investe contra a coitada. Bem, vamos dar um desconto ao Chevalier, afinal, deve ser mesmo difícil realizar uma cena em que a atriz é estuprada por uma câmera.

Nesse meio tempo, nosso engenhoso herói arruma um jeito de fugir do cárcere. De posse de potente maçarico (quero dizer, de um archote), o médico, um verdadeiro precursor do lendário McGiver, põe fogo no grosso tirante de madeira que serve de tranca à porta da cela e, num segundo, reconquista a liberdade. Depois de safar-se de um corredor onde as paredes cerram-se sobre sua cabeça (outra tosquíssima seqüência em que a câmera, em sucessivos e atrapalhados zooms do médico – a influência de Jesus Franco, como se percebe, não se limitou ao nome do filme –, fica a girar sem rumo, como se estivesse tão bêbada quanto o próprio diretor), nosso herói ultima alcançar os aposentos da filha do nefando Dr. Orloff, justo no momento em que o super-homem transparente está, provavelmente ouriçado com suas últimas experiências sexuais, a atacá-la. E tome outra cena gratuita da baranga nua!

Finalmente, depois de mais de setenta minutos de filme, alcançamos o momento apoteótico. Depois de se engalfinhar, lançando-se ridiculamente de um lado para outro no vazio, em uma suposta briga com o homem invisível, o médico tem, então, brilhante idéia. Tomando de um punhado de farinha, lança o pó branco sobre o lugar em que presume esteja o agressor transparente. O que se segue é das cenas mais deliciosamente bisonhas que já se teve oportunidade de registrar em película. Salpicado de branco, eis que surge, em toda sua glória, o nosso super-homem invisível: um safado vestido em carnavalesca fantasia de macaco negra e peluda. Pô, mas a farinha não era branca? Por instantes, o ex-invisível fica a mirar-se no espelho, provavelmente a contemplar, constrangido, o ridículo papel que lhe foi confiado na estória. De súbito, lembra-se de que estava a brigar com alguém. Voltando-se novamente para seu oponente, nosso super-homem símio ergue os braços de forma ameaçadora e profere as seguintes super-palavras: “hug-hug, roooaaaar”. O corajoso médico não se deixa intimidar pela terrível ameaça e, apanhando um atiçador de lareira, dá com o pedaço de ferro na cabeça do macaco. Uma única pancada é o suficiente para que o temível super-homem macaquífero caia desfalecido. Sim, depois de uma hora de filme, o titânico embate resume-se a isso: uma reles pancadinha com um atiçador de fogo. Abraçados, médico e paciente saem então correndo do castelo, enquanto o Dr. Orloff (e eu jurava que o Chevalier já tinha se esquecido dele) lá permanece, sob a justificativa de dar cabo definitivo do macaco. Aparentemente, não o consegue.

Vale ressaltar, por fim, a brilhante montagem. Sem a menor idéia de como costurar as cenas, valeu-se o “montador” dos momentos em que a câmera demorava-se parada em algo para fazer as transições. Não importava no que a câmera estivesse fechada. Numa lareira, numa coruja empalhada, num quadro, qualquer coisa servia de desculpa. A naturalidade da montagem certamente daria inveja a Eisenstein. Bem, não seria mesmo de se esperar fosse diferente, afinal, estamos diante de um super-filme sobre um super-homem, que é um macaco, que é invisível, que é um vampiro e que é um palerma. Bruno Mattei ficaria orgulhoso.

Fabrizio Barberini
03/2007
Onde Conseguir
- Putrescine - CD Point - Amazon - Xploited Cinema
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