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::Bye Bye Brazil::
Horas Fatais - CabeÇas Trocadas
Título(s) Alternativo(s):
Título Nacional: Horas Fatais - Cabeças Trocadas
Direção: Francisco Cavalcanti, Clery Cunha
Elenco: Francisco Cavalcanti, José Mojica Marins, Turíbio Ruiz, Farah Abdala, Fabrício Cavalcanti
Ano: 1983
País: Brasil
Duração: 94 min
Sinopse: Chico era um pacato cidadão do litoral paulista que tem sua vida transformada depois que dois garotões ricos invadem sua casa e violentam sua mulher e sua cunhada. Desiludido com a justiça, Chico queria sua vingança a todo custo. Ele sabia que era quase impossível, mas jurou matar um por um.
Comentário
Cara estranho esse Francisco Cavalcanti, viu? Estranho mesmo. Começa pelo nome do filme que ele decidiu levar a cabo. É um daqueles títulos que não guarda qualquer relação mais forte com a história e que tem virado mania de uns tempos pra cá (o exemplo mais óbvio que me ocorre agora é Elefante, de Gus Van Sant). Mas é melhor nem nos aprofundarmos neste mérito (mérito?)... Especialista em pornochanchadas e filmes de sexo explícito como a maioria dos diretores provenientes da Boca do Lixo paulistana, aqui Cavalcanti põe o dele na reta ao, além de assumir a direção, protagonizar a fita. Ah – como eu poderia me esquecer? –, o roteiro é dele também. Mais um faz tudo na área. Forçando uma semelhança com Charles Bronson no visual e no plot – uma variação tupiniquim de Desejo de Matar (mudando o pano de fundo do desenvolvimento da história de um balneário pra um cenário maratimba justafluvial daqueles típicos da região norte) – o filme conta a história de Chico, um dono de bar que tem a mulher e a cunhada violentadas e brutalmente assassinadas por dois desajustados. Acontece que os meliantes tinham as costas quentes: um era filho do juiz da cidade e o outro um amigo bem próximo do primeiro. O juiz tenta acobertar o crime com a ajuda do Dr. Honório, o delegado (vivido pelo imortal José Mojica Marins, num papel que em nada lembra o seu eterno Zé do Caixão, exceto pelas incomuns garras que fizeram sua fama, também presentes no agora homem-da-lei).

Apesar do prestígio dos políticos, a corrupção não é bem-sucedida, pois o filho de Chico consegue memorizar a placa do carro em que os bandidos fugiram, fazendo com que se instaure um escândalo de proporções nacionais. A propósito, o âncora do programa Questão de Opinião, um embrião/protótipo dos programas atuais de reportagens policiais, é interpretado por Clery Cunha, figurinha carimbada na Boca, diretor e ator de outros tantos filmes e que dá uma mãozinha aqui também, como co-diretor. É nas inserções de cenas deste fictício programa que temos a noção da repercussão do crime (involuntariamente e de forma ingênua, já temos também uma crítica ma non troppo à busca por audiência). Os clichês se sucedem em um crescendo incontestável, embora a forma como eles sejam tratados (graças ao orçamento parco – thank God) faça com que o incômodo seja infinitesimal contrapondo o filme a uma produção de grande porte. Até porque comparações não cabem aqui, embora sejam errôneas, conquanto inevitáveis. Em momento algum conseguimos ser convencidos de que as situações contidas na película sejam reais. E isso, embora não tenha sido a intenção da equipe técnica, obviamente, constitui um dos seus maiores méritos. Por mais estranho que isso possa soar, é essa inverossimilhança o que mais chama a atenção em Horas Fatais – Cabeças Trocadas.

A tortura crudelíssima empreendida sobre Chico ante sua não-aceitação de suborno para ficar “de bico calado” é apenas a gota d’água pra que tenha início uma verdadeira vendetta rural. Após esconder o filho (e, faz-se necessário prevenir, você se irritará MUITO com o quanto o moleque chora em praticamente todas as cenas. Um choro fake, diga-se), o refeito vigilante sai à caça implacável dos que dizimaram a sua família e destruíram o seu bar. Na verdade, a cena da destruição do bar se resume a algumas garrafas de refrigerante e copos quebrados em câmera lenta. Algumas das melhores seqüências do filme são passadas neste bar. Na seqüência inicial do filme, você juraria estar assistindo a um episódio ainda inédito de Chaves passado num restaurante de Acapulco ou qualquer coisa nestes moldes. A presença e o carisma dos figurantes não é menos que risível. O personagem de Turíbio Ruiz, um policial reformado que ganha a vida como traficante de armas no bar do amigo e que, nas horas vagas, projeta as próprias armas (sério, e um dos diálogos mais surreais de todo o filme é quando ele revela isso a Chico, que arremata: Você mesmo projetou? Mas você é muito inteligente!) tem um papel decisivo na trama, passando à personagem secundário.

Apesar de todas as boas intenções, como levar a sério um filme em que um simples comerciante, com pinta de Bronson ganha um lança-mísseis artesanado por um amigo? Ainda mais quando a arma não passa de uma zarabatana que atira foguetes explosivos de alumínio e ele sai testando seu poderio de fogo em tiros que resultam em explosões constrangedoras? Como alguém pode querer se camuflar no meio do mato com uma jaqueta vermelha? Como aceitar a virilidade de um estuprador que foge de medo pra uma ilha no interior de Santarém chamada Uruquirituba? Como os dubladores deixaram que o áudio ficasse tão fora de sincronia com as falas das personagens? E, por último, o principal: como alguém consegue não se divertir com tudo isso? Assista e se delicie. É por conta da casa.
Vinnie Bressan
14/03/2005
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